domingo, 3 de novembro de 2013

A CRIAÇÃO DE MATO GROSSO DO SUL E O PROCESSO DE FORMAÇÃO POLÍTICA

A trajetória transcorrida para que o Mato Grosso se tornasse Mato Grosso do Sul não foi curta nem isenta de percalços. A causa saparatista atravessou quase um século, passou por duas ditaduras, e só encontrou solução a 11 de outubro de 1977,
Posse de terras e luta contra os privilégios da Mate Larangeira foram as sementes de divlsionismo no final do século XIX. Entetanto, germinadas na esteira das pelejas entre coronéis, não arregimentaram os chefes políticos sulistas, vez que estes encontravam-se sempre fracionados. cada grupo vinculado a um coronel do norte. Nessas circunstâncias, a divisão de Mato Grosso não se tornou uma causa comum dos sulistas embora tenham ficado famosos como separatistas João Mascarenhas. João Caetano Teixeira Muzzi, João Sarros Cassai e Bento Xavier.
Esgotado o ciclo das lutas armadas na primeira década do século XX os caudilhos foram substituídos por um novo grupo político que agora centrava-se em Campo Grande, a pequena vila da década de 1910 que em pouco tempo sobrepujou Nioaque, Corumbá e Miranda. Ali começou a ser gestada a nova elite política sul-mato-grossense: os "doutores", filhos de famílias tradicionais, recèm-formados em medicina ou Direito, principalmente. Com esse grupo, também oriundo da classe latifundiária, iniciou-se em Campo Grande uma nova fase do divisionismo.
Isto foi ocasionado, em grande parte, após 1914, com a chegada dos trilhos da Noroeste que ligaram o sul de Mato Grosso a São Paulo. Cuiabá, não incluída no traçado da ferrovia, ficou isolada. Campo Grande, ao contrário, passou a desempenhar o papel de centro político do sul.
Mas não se tratava exclusivamente de preponderância política: a pujança econômica dessa região de Mato Grosso fez com que, na década de 40, o presidente Getúlio Vargas declarasse Campo Grande a "capital econômica" do estado. Aspirando tornar-se capital, ela começou a rivalizar com Cuiabá editando novos rumos à causa separatista.
A rivalidade do sul contra o norte passou a ser expressa na dicotomia progresso-atraso, O sulista, sinônimo de campo-grandense, representava o "progresso", o"cuiabano", sinônimo de nortista, era visto como aquele que vivia do emprego público. Dos anos 30 até a década de 60, a supremacia do sul foi reafirmada em várias obras de expressão da causa sulista: Arlindo de Andrade, por exemplo, em Erros da Federação, de 1934, já assinalava, após análise da situação econômica de Mato Grosso, que: "O estado vive  do que rende o sul". Emílio Garcia Barbosa, igualmente, afirmava que "a arrecadação do sul somava mais de dois terços da totalidade". Já Oclécio Barbosa Martins, em estudo sobre a geopolítica do estado, concluía: "O sul possui tudo, menos administração”.

A formação do estado de Maracaju (1932)
Quando a proeminência política de Campo Grande começou com as lutas tenentistas da década de 1920. Depois, em 1932, quando eclodiu a "revolução" constitucionalista contra Vargas, o sul de Mato Grosso aliou-se aos paulistas enquanto a capital manteve-se legalista. Um governo paralelo ao de Cuiabá chefiado por Vespasiano Barbosa Martins, foi formado em Campo Grande, mas o fracasso do levante desencadeou punições e exílios no Paraguai.
A derrota, porém, aprofundou o sentimento regionalista no sul: foi então que se criou, em 1934, a Liga Sul-Mato-Grossense, que expressou pela primeira vez em documento, a intenção de dividir Mato Grosso. O governo Vargas, contudo, não acatou a demanda.

O Território Federal de Ponta Porã (1943 – 1946)
A ditadura do Estado Novo (1937-1945) tinha, porém, as suas preocupações geopolíticas. Respaldada na concepção nacionalista e no intervencionismo estatal, lançou, em 1938. a campanha, Marcha para o Oeste, que sintetizou os propósitos de interiorizaçâo do pais. Para Vargas, era necessário ocupar as "áreas desertas", por isto voltou as vistas para o sul de Mato Grosso e criou, em 1943. a Colônia Agrícola de Dourados e o Território Federal de Ponta Porã. Mas. para decepção dos divisionistas. na área sob jurisdição do Território não foi incluída a próspera Campo grande que aspirava o título de capital.
O certo é que não coube à ditadura Vargas solucionar a questão separatista do sul de Mato Grosso: a tarefa foi adiada para outra ditadura, Sob o regime militar instaurado em 1964 a secessão finalmente encontrou respaldo. Mas isso porque o governo Geisel, autor da divisão, encontrava-se fortemente ancorado na concepção geopolitica do general Golbery do Couto e Silva.
No contexto da Guerra Fria, o ideólogo do regime militar defendia a ocupação estratégica do território nacional de forma a estimular o desenvolvimento capitalista. As regiões de fronteira com outros países, como era o caso do sul de Mato Grosso, não poderiam ficar "desguarnecidas", à mercê de "ataques subversivos", enfatizava ele. Tais "ameaças" poderiam ser evitadas se o território fosse "ocupado", isto é. ficasse sob controle do Estado e de políticas de estímulo ao desenvolvimento capitalista.
Os estudos geopolíticos dos governos militares tinham nova feição: a concepção de segurança nacional. De acordo com essa concepção, uma das estratégias internas para o Brasil, deveria ser a ocupação, "a tempo", dos "espaços vazios" entre os quais incluía-se o Centro-Oeste. Por isso, tão logo assumiu a presidência da República, o general Ernesto Geisel deu mostras  que estava disposto a intervir na configuração geográfica de algumas partes do país. Alias, o II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), editado em dezembro de 1974, afirmava que a prioridade, em matéria de divisão territorial era dar "atenção especial à situação de Mato Grosso”. Mas na justificativa de Geisel constava que a divisão era "decorrente também de uma necessidade política, tendo em vista um melhor equilíbrio da Federação do dia de amanhã".
Observe o mapa abaixo mostrando a criação do Território federal de Ponta Porã.




 A criação do estado de Mato Grosso do Sul
Criando Mato Grosso do Sul o regime passou a contar com mais um governo estadual aliado, além de bancadas parlamentares nas ; quais se incluía o senador biônico, nomeado peia ditadura. Assim, a conjugação da geopolítica golberyana com os anseios separatistas existentes no sul do antigo estado propiciou as condições históricas para que, então, em 1977, fosse criado Mato Grosso do Sul.
Em 1974, o governo federal, pela Lei Complementar n° 20, estabelece a legislação básica para a criação de novos Estados e territórios, reacendendo a campanha pela autonomia. No dia 11 de outubro de  1977, o presidente Geisel assinava a Lei Complementar nº. 31 criando o Estado de Mato Grosso do Sul, com capital em Campo Grande. Em 31 de março de 1978, o engenheiro Harry Amorim Costa era nomeado Governador do Estado. O estado-sonho tornava-se, enfim, estado-realidade.
        Realizada de cima para baixo pelo regime militar, a divisão prescindiu de consulta popular. A ausência deum plebiscito evitou que se apurasse a opinião das duas populações interessadas: a do sul e a do centro-norte. O povo de nada sabia. Ele mais assistiu do que participou, pois o assunto foi tratado por Geiselcomo "sigiloso".
Para o estado nascente, a ausência de partidos políticos e de organizações populares na divisão implicou no continuísmo herdado da política mato-grossense. Em Mato Grosso, no período de 1946 a 1965, dois partidos polarizavam a política: a União Democrática Nacional (UDN) e o Partido Social Democrático (PSD). Os seus líderes eram. respectivamente, Fernando Corrêa da Costa (sul) e Filinto Muller (norte). Uma vez dividido o estado os seus herdeiros mais fortes ficaram no sul: Wilson Barbosa Martins e Pedro Pedrossian. Foram eles que monopolizaram o cenário político sul-mato-grossense nos últimos vinte anos.
Até outubro de 1998, a história política do estado pode ser sintetizada em duas fases: a primeira. de 1979 a 1982, caracterizada por golpes e instabilidade política, Mato Grosso do Sul teve em três anos, três governos nomeados pelo regime militar: Harry Amorim Costa,natural do RS foi empossado em 1º. De janeiro de 1979 permanecendo até julho do mesmo ano,  Marcelo Miranda Soares e Pedro Pedrossian. A segunda fase iniciou-se com o restabelecimento eleições para governadores, em 1982, a contar do término desse governo, porém, verificou-se o revezamento entre os dois grupos.
A velha política dos chefes dominou o jovem estado até as eleições de 1998, quando foi eleita a coligação de esquerda liderada pelo Partido dos Trabalhadores. O significado dessas eleições para o
estado, que atingiu sua maioridade, é duplo:
a) representa o fim de um longo período dominado pelos chefes políticos oriundos da dualidade herdada do antigo Mato Grosso:
b) demonstra que a política tem relativa autonomia pois, num estado de estrutura agrária, onde segundo dados do Censo Agropecuário de 1996, 12% dos proprietários detêm 80% das terras, Zeca do PT conseguiu derrotar dois grupos hegemônicos oriundos das oligarquias.

Referências bibliográficas:
Escoía Guaicuru - vivendo uma nova lição.
História do MS - Lori Alice Gressler

           ATIVIDADES DE FIXAÇÃO

01. Leia as frases com atenção e coloque F para as frases falsas e V para as verdadeiras.
a) (    ) A causa saparatista o Mato Grosso atravessou quase meio século, passou por duas ditaduras, e só encontrou solução na década de 1980.
b) (    ) A formação do estado de Maracaju ocorreu em 1932, quando eclodiu a "revolução" constitucionalista em São Paulo contra o governo de  Vargas.
c) (   ) A divisão do estado ocorreu dentro da normalidade, havendo um plebiscito com a participação da população, sendo que houve 60% de votos a favor.
d) (    ) Os primeiros governadores de MS foram nomeados pelo governo federal, e em 1982, houve eleições diretas.

02. Na rivalidade existente entre o norte e o sul do estado, como os slistas viam o “cuiabano”?



03. Quando foi criada a Liga Sul-Mato-Grossense e qual seu objetivo?


04. Sobre o estado de Maracaju, descreva:
a) quando foi criado
b) quem governou
c)cidade sede do governo
d) o que aconteceu com os revoltosos

05. Durante o governo de Getúlio Vargas, ocorreu a “Marcha para o oeste” com propósitos de interiorização do país. De que maneira esse propósito interveio em Mato Grosso?


06. Qual a justificativa do presidente Geisel para dividir o antigo estado de Mato Grosso?




07. O povo participou do processo de divisão do estado?Justifique.




08. Qual o significado das eleições de 1998 para MS?




09. Descreva a política do nascente estado de MS.



10. Complete as frases.
a) Primeiro governador nomeado de MS_________________________________________
b) A implantação do novo estado ocorreu no dia ___________________________________
c) A Lei que dividiu o Estado foi________________________________________________
d) A 1ª eleição livre para governador ocorreu em _____________________________ sendo eleito____________________________________________________________________